domingo, 14 de março de 2010

O amor está no ar...

Oi.

"Love is in the air"... Este era o título de uma música famosa na minha mocidade... Você nunca ouviu falar? Talvez seja porque eu seja um pouco mais experiente que você (entenda, mais velho; bem mais velho). Isto explica também porque o Cesinha, meu filho de seis anos, estava outro dia chamando o avô no supermercado e um transeunte bateu nas minhas costas e disse: "O menino está chamando o senhor...". Vontade de quebrar a cara do cidadão à parte, estou vendo que o amor, a paixão, o romance, estes assuntos do coração, eles mexem com a gente. Às vezes com saudosismo (na minha idade, normalmente é saudosismo, risos), às vezes com expectativa (quem é que nunca esperou um grande amor?) e, com o passar do tempo, com uma naturalidade "irrequieta" (diz que não se prende mais, mas morre de ciúmes; diz que o outro pode sair sozinho, mas liga de cinco em cinco minutos, essas coisas...).

Lembrei-me porém de uma das paixões mais estranhas que já presenciei na vida; ele era um homem casado e se apaixonou pela médica de sua filha. Procurou-me um dia, com papo de "cerca Lourenço", falando da sua simpatia pela moça (eu conhecia todo mundo, ele, a esposa, a filha, a médica, o marido da médica, o amante da médica - ou será que eram os amantes? Não lembro... Xiiiiiiiiiiiiiiii...).Não entendi num primeiro momento; achei que se tratasse de uma "conversa de machos", na qual os homens falam dos atributos das mulheres - eu sei, queridas leitoras, é um choque para vocês, mas nós homens, sim, falamos de seus bumbuns e adjacências, acreditem vcs ou não. Ah, sim, o cara que dorme ao teu lado e que diz que só tem olhos para vc, também fala do bumbum alheio, basta estar na rodinha de homens conversando. Respondi que o corpo dela era bem feito e tudo, mas que não era essa bolachinha toda, imaginando que a partir daí passaríamos ao escracho - outra mania masculina. Com a voz soluçando, disse-me que a achava sim, maravilhosa. Vi que estava diante de um homem a sofrer. Fechei a porta de onde estava e passei a pacientemente ouvi-lo.

Ele havia perdido um filho recentemente e talvez acreditasse que não conseguisse ter mais filhos com a atual esposa. Com a perda do bebê, a esposa se tornara arredia com a filha e para com ele. A médica, em contrapartida, por estar em local de trabalho, sempre estava muito bem arrumada, era cortêz com todos e reeducava a filha dele quando se consultavam.

Ela era uma mulher nova, bem mais nova que sua esposa. Era uma mulher, como direi eu? Uma mulher em busca da felicidade. Era casada, tinha outro(s) caso(s), não fazia questão de esconder e meu amigo viu nela uma mulher disponível.

Em minha mente, entendo a posição dele até aí. Você sabia que a ortodoxia judaica não condena um homem por desfrutar de uma mulher desfrutável? Isto é coisa do cristianismo, principalmente o romano. Só que existia uma distância muito grande entre desfrutar momentos de prazer com uma mulher (sim, leitoras, algo totalmente condenável para homens casados, principalmente o seu macho - aliás, na minha opinião, o seu jamais faria uma coisa dessas) e aquilo que eu estava vendo diante de mim.

Ele ultrapassara o tênue limite que existe entre uma fantasia, um jogo de sedução entre adultos e a obsessão doentia. Explicando: ele nunca se insinuou para ela, segundo me disse, aos prantos, mas deixou crescer dentro dele uma admiração cada vez maior pela mulher, a ponto de não mais se preocupar com sua própria vida. Suas contas não eram pagas (não era falta de dinheiro, era falta de ânimo para tocar a vida), sua mulher (ou qualquer outra) não o atraía e ele tinha a impressão de que, sem a mulher do seu desejo, não conseguiria viver.

Deixei de lado minhas convicções a partir deste momento e o incentivei a procurar a tal médica (tinha a impressão que o choque da realidade iria trazê-lo de volta desta situação difícil - a mulher ideal não tem chulé, não grita, não peida, não tem manias, não tem cc, não pede para vc consertar a cortina na hora em que vc está vendo TV; a de verdade tem e faz tudo isto). Ele, porém, não queria, ele não conseguia, era como se ela fosse um deus intangível sobre um altar impossível de ser alcançado. Logo, quando se lembrava dela se emocionava e quando a via, chorava. Neste momento descobri porque ele me procurara. Não tinha mais como levar a filha à médica. Dia seguinte ela teria consulta. Não queria sofrer o que estava sofrendo na frente dela e de sua esposa ao mesmo tempo. Esqueci de dizer: ele deixou que este sentimento todo crescesse dentro dele, mas me disse ele que jamais deixou de amar sua esposa (?!?!?!?!?!?!?!) e que aquilo tudo estava lhe fazendo mal. Ele era cristão, queria se livrar de um sentimento que não era para ele e eu então me senti compelido a orar com ele. Se tem algo que aprendi ao longo da minha vida foi que, aquilo que não me cabe fazer, cabe a Deus fazer. Oramos e fui à consulta dia seguinte com sua família (ele, para todos os efeitos "ficou trabalhando"). A médica, em contrapartida (eu a conhecia de outros carnavais), me disse que tinha tomado juízo e que agora vivia só para seu marido (?!?!?!?!?!?!?!).

Depois da nossa conversa, o meu amigo andou triste por um tempo. Vi que se esforçava para ficar com sua esposa. Acho que venceu sua luta interior. Sua esposa engravidou novamente e lhe deu um filho. Nunca mais ele me pediu para ir à consulta em seu lugar, nem trocou de especialista.

Parece que é uma história triste a que eu acabei de contar, né? A história de um amor que não aconteceu... Na verdade não. Basta mudar a ótica e veremos uma história de amor muito bonita. É a hisória de amor de um homem por sua família e seus valores, lutando contra seus fantasmas interiores e seus desejos naturais.

E, sem querer, acabei escrevendo sobre a diferença entre a paixão e o amor. O amor permanece, acredite.

Mas, esta história toda levantou uma questão: pode um homem adulto e casado se apaixonar? Ou este foi um fato isolado?

Leia o que penso sobre isto amanhã à noite, neste Blog.

Fiquei tentado a escrever "Bj do Gordo", mas lembrei que este é o bordão do Jô Soares. E gordo é teu passado!

Bjão do Alfonsão.

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