segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O dilema do aborto na corrida presidencial.

Oi.
Parece-me que não existem mais formadores de opinião no Brasil. Que se rasgue, se queime e se quebre todo o aparato de mídia deste país. Pouco importa se este ou aquele candidato for a favor ou contra o aborto. A questão, quando se fala de políticas públicas, não é esta. E pretendo destrinchar a questão em poucas linhas.
1ª abordagem: a preguiça dos líderes religiosos: sim, preguiça, não há outro nome a se usar. Você, leitor amigo, já foi à Igreja? Qualquer igreja? Ao centro espírita, do seu bairro? À reunião budista, do seu vizinho? Pois bem, lá você ouvirá preceitos, alguns comuns às religiões em geral, outros, específicos de cada doutrina; aliás, é justamente por causa dos preceitos específicos que existem tantos caminhos... Bem, voltando: cada caminho especificará um trajeto a ser seguido, INDEPENDENTEMENTE das leis do país, ou de aspectos culturais, ou do que quer que seja. Não se orienta a beber nas igrejas evangélicas, por exemplo. E, aqueles que são fiéis à doutrina, não bebem. Ora, no Brasil, não é crime beber, no entanto, como o doutrinamento nesta área é bem feito, o adepto religioso não bebe. Ou fuma. Ou faz qualquer outra coisa que seja pecado. O MESMO IRÁ ACONTECER COM O ABORTO. Basta que os líderes façam o dever de casa e doutrinem seus rebanhos. Um aparte: o que a Igreja Católica sugere então, beira à ignorância da idade das trevas: não pode usar camisinha. Ah, sim, também não pode fazer aborto. Qual será o próximo passo: Não pode entregar a criança para adoção? Camisinha é melhor do que aborto, com certeza, pois se evita um problema, ao invés de solucioná-lo, de forma radical e traumática, depois. E, numa análise bem fria, FEITA POR MIM, sexo com camisinha, se a camisinha for usada do início ao fim da relação, nem pode ser, tecnicamente, considerado sexo, porque nao há troca de humores sexuais. Sou um gênio, não sou?. Ah, sim, sou também religioso, só não posso deixar de ser coerente...
2ª abordagem: estado laico: beleza, o pessoal da política quer os votos dos religiosos. NINGUÉM deve se esquecer, porém, da separação entre Igreja e Estado. E existem razões de estado para se promover a descriminalização do aborto. Quantas meninas por ano morrem em virtude do uso de abortivos ou de procedimentos mal feitos em "clínicas" de aborto? Isto sem falar nos incontáveis casos em que, a candidata a mãe se esteriliza ou sofre complicações do procedimento mal feito, terminando a curetagem num hospital da rede pública (que, como aborto é crime, não possui pessoal especializado no tratamento que a paciente necessita para seu reestabelecimento). Cabe aqui uma puxada de orelha num líder religioso que disse que não votaria mais em Marina porque ela traía a sua fé ao jogar para o povo um plebiscito sobre o assunto. De novo: estado e igreja são separados e mais, não se governa só para religiosos, nem se impõe um conceito religioso por meio de medida provisória ou lei. Isto é feito nas igrejas e, mais uma vez eu digo: líderes, deixem de ser preguiçosos e vão orientar seus rebanhos.
3ª e última abordagem: livre arbítrio: bem, digamos que, o radicalismo ganhou, os políticos mentiram dizendo que, por razões de estado, são contra o aborto (não dá pra ser, este é um problema de saúde pública de cunho altamente social, com profundo impacto nas comunidades carentes deste país), as lideranças religiosas continuaram com sua pregação antiabortiva, mas, contudo, um determinado casal engravidou. Eles estão começando a vida, ruim pros dois, fora de hora pros dois... O que fazer? Bem, independente do que diz a lei e independente do que dizem seus líderes religiosos, eles, segundo seu livre arbítrio, seguirão um dos dois caminhos, o do aborto ou o do não aborto. Digmaos que, por absurdo, a opção do casal seja pelo aborto. Não seria melhor fazer um aborto com segurança, amparado pelas leis do país, aproveitando até a infraestrutura e a expertise dos profissionais da rede pública de saúde, que em caso de aprovação de uma "lei de aborto" terá experiência no assunto? Ou alguém acha que o melhor seria deixar a mulher à incerteza dessas clínicas clandestinas a mutilarem sua madre e sua vida? Gente, há que se respeitar a decisão do casal. Gerar condições para que se respeite isto, é função do estado.
Concluo, desta forma, que, mesmo sendo peremptoriamente contra o aborto ou qualquer outra forma de cerceamento da vida (pena de morte, sacrifício humano, etc...), esta é uma questão de estado e deve ser tratada dentro do âmbito das políticas públicas, cuidando dos interesses dos menos favorecidos, cabendo, em caso de aprovação de uma "lei de aborto", ações enérgicas das lideranças religiosas na condução de seus rebanhos.
Este é o meu ponto de vista e o defendo na presença de Deus e, parafraseando Paulo, sem ser herético, "creio que também eu tenho o Espírito de Deus sobre este assunto".
Beijos a todos,
Alf.

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